quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A Mimesis Aristotélica





O fim da arte é imitar perfeitamente a Natureza. Este princípio elementar é justo, se não esquecemos que imitar a Natureza não quer dizer copiá-la, mas sim imitar os seus processos.[1]

                      Fernando Pessoa

Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) nasceu em Estagira, na Calcídia. Discípulo de Platão durante 20 anos, foi seu melhor aluno. Quando não estava presente na Academia, seu mestre dizia "A inteligência está ausente". Criador do pensamento lógico e pai da Poética, foi tutor de Alexandre, o Grande[2]. "Atuou em diversas áreas do conhecimento humano, a ética, política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia, biologia, história natural. É considerado por muitos o filósofo que mais influenciou o pensamento ocidental."[3] Aristóteles era conhecido também como o estagirita, por ter como origem a cidade de Estagira.
A mimesis, para ele, era um verdadeiro processo. Escapando da definição platônica de imitação, Aristóteles professava que "a arte não precisa mostrar o verdadeiro, não precisa reproduzir com exatidão o real, mas evocá-lo de modo que as situações, caracteres e emoções retratados sejam convincentes, pareçam verossímeis."[4]
A mimesis Aristotélica é um contraponto à mimesis Platônica, não define o valor artístico mas o valor de verdade: se, para Platão, a imitação era o distanciamento da verdade e o lugar da falsidade e da ilusão, para Aristóteles, a imitação é o lugar da semelhança e da verossimilhança, o lugar do conhecimento e da representação. A função mimética em Aristóteles nem é uma exclusividade das artes poéticas, ela se apresenta também, por exemplo, na linguagem humana em sua função de representar as coisas.[5]

Para Aristóteles, a "imitação é produzida por meio do ritmo, da linguagem e da harmonia, empregados separadamente ou em conjunto."[6] A liberdade do pensamento sobre a mimesis tece um elo entre as artes.
A poesia é uma imitação pela voz e distingue-se assim das artes plásticas, que imitam pela forma e pela cor. Esta definição permite a Aristóteles estabelecer diferentes formas poéticas, desde a dança até a poesia lírica, a tragédia e a comédia que imitam pelo ritmo, pela linguagem e pela melopeia[7], [8]  

Aristóteles aplica a mimesis a elementos pertencentes a uma ou mais artes, como a cor, o tom e o ritmo. Portanto a mimesis pode ser aplicada no estudo desse diálogo artístico com perfeição. Sobre o pintor, possui uma visão diferente da platônica.
Sendo o poeta um imitador, como é o pintor ou qualquer criação de figuras, perante as coisas será induzido a assumir uma das três maneiras de as imitar; como elas eram ou são, como os outros dizem que são ou como parecem ser, ou como deveriam ser.[9]

Desse modo, Aristóteles reunifica o equilíbrio entre as artes e o conhecimento. Ele propõe uma educação estética artística, empregando o processo mimético para estabelecer suas bases. Explica o sabor que o saber proporciona, utilizando os sentidos, as sensações, como elemento fundamental na prática pedagógica. A mimesis é a forma primeira de conhecer. “Quando trata do objeto de imitação na poesia, dirá que aquilo que se imita é, sobretudo, o caráter do homem e suas ações."[10]
A tendência para a imitação é instintiva no homem, desde a infância. Neste ponto distingue-se de todos os outros seres, por sua aptidão muito desenvolvida para a imitação. Pela imitação adquire seus primeiros conhecimentos, por ela todos experimentam prazer. [11]

Desse prazer no reconhecimento explica-se a função didática e o potencial pedagógico. Tecendo um paralelo entre a imitação e o conhecimento, Aristóteles percebe que os sentidos, despertados pelas sensações, possuem igualmente uma propriedade educativa. Refletindo sobre a relação existente entre a arte e a sensação humana, o filósofo conecta o aprendizado à experiência individual.
Caminhando entre diversos sentidos, a mimesis aristotélica permite pensar a realidade, ir além de suas estruturas, recriá-la por diversas associações possíveis. Aristóteles elabora, por sua vez, um pensamento educacional, complementar à filosofia, e não contraditório como o de Platão. Outro ponto essencial de seu pensamento é a Poética, formada pela união entre techné e poiésis.


[1]PESSOA, Fernando. Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, p. 321.
[2] ALEXANDRE da Macedônia, conhecido como O Grande ou Magno devido suas ações.  Foi o mais célebre conquistador do mundo antigo. Era filho de Filipe II da Macedónia e de Olímpia do Épiro, mística e ardente adoradora do deus grego Dionísio. Em sua juventude, teve como preceptor o filósofo Aristóteles. Tornou-se rei da Macedônia aos vinte anos, na sequência do assassinato do seu pai. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_o_Grande>. Acesso em: abril de 2007.
[3]ARISTÓTELES. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Aristóteles>. Acesso em: 23 fev. 2008.
[4]FALABELLA, Maria Luiza. op. cit.,  p. 17.
[5]MOREIRA, Fernando José  Santoro. op. cit.,  p. 75.
[6]ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Trad. Antônio Pinto de Carvalho. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, Editora Tecnoprint S.A., 1970,  p. 289.
[7]Melopeia - evoca a dimensão sonora do poema, os recursos melódicos que o aproximam da música, da dança (rimas, aliterações, assonâncias, repetições, metrificação), marcantes nos poemas especialmente dos simbolistas, como Cruz e Souza. SILVA, Susana Souto. O corpo do Poema. Publicação do Centro de Ciências de Educação e Humanidades – CCEH, Universidade Católica de Brasília – UCB, Volume I, Número 2, Novembro 2004. Disponível em: <http://www.humanitates.ucb.br/2/corpo.htm>. Acesso em: mar. 2009.
[8]ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Trad. Antônio Pinto de Carvalho. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, Editora Tecnoprint S.A., 1970,  p. 289.
[9]Ibid.,  p. 283.
[10]MOREIRA, Fernando José de Santoro. Arte no Pensamento de Aristóteles. Disponível em:                                        <www.artenopensamento.org.br/pdf/arte_no_pensamento_de_aristoteles.pdf >,  p. 80. Acesso em: 19 mar. 2007.
[11]ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Trad. Antônio Pinto de Carvalho. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, Editora Tecnoprint S.A., 1970,  p. 294.

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