Acalanto
Acalanto é uma composição breve inspirada nas cantigas de ninar. Geralmente escrita em versos de 5 sílabas poéticas.
Sonha uma criança
Em névoas feitas
Com céu de estrelas
Brilhando esperança
Mas em nuvens alvas
Olhando para a Terra
Um anjo que zela
Pela sua alma
E acorda o pequeno
Meio assustado
Chorando acordado
Com olhos serenos
Rufla as asas no ar
Zelando o menino
Dorme pequenino
E volta a sonhar...
Acróstico
Ana Cristina
Acordei um dia e fiquei a procurar
Não sabia o que era, porém me fazia falta
Algo que reunisse tudo o que queria encontrar
Como uma frase perdida que precisava ser achada
Recriar uma paisagem, algo belo
Inventar uma canção, para que pudesse ser cantada
Saber todos os segredos do universo
Tentar reunir tudo em uma só palavra
Insinuar a sedução, o amor,
Néctar de flores a serem sugadas
Acordar e não saber onde estou
Poder voar como a brisa
Entardecer o dia
Revirar folhas secas, espalhadas
Esperar e dormir só de dia
Invés de a noite ser desperdiçada
Restava-me o que estava perdido
Aceitava a idéia de que não o encontrava
Depois fiz tudo o que me deu vontade
Um desejo em forma de pessoa
Acabei não encontrando o que procurava
Realmente acho que não foi a toa
Tempo passou, tenho saudade do que desejava
E o que procuro eu não achei, não me fez a mínima falta...
Tinha o amor, e uma pessoa que me amava...
Barcarola
Canção romântica dos gondoleiros de Veneza, Barcarola é uma composição de origem italiana em que há referência há um rio ou lago.
Tempo e amor
Planando nestas águas turvadas do amor
Não há em Veneza, um gondoleiro que for
Que não se rendeu aos poemas de lastro
E a cada embarcação que neste rio navega
Pesa o toque suave que ajuda os cascos
A navegar por entre os amores encontrados
E a naufragar por amores de outras épocas
Como a dor que ao peito do gondoleiro encerra
O faz cantar para os seus passageiros na esperança
Que sua voz sele o seu amor, ao menos lembrança
Do que ele já amou pois só o seu amor lhe resta....
E a cada triste alma que a sua voz escute
Navega pelos rios desconhecidos da alma
Onde encontra perdido entre quimeras guardadas
O amor no tempo, que o próprio tempo ilude...
Ditiramo,
Criado na antiga Grécia, o ditirambo era um poema cantado em homenagem a Baco(Dionísio), deus do vinho e da embriaguez. Mas depois de algum, este poema passou a celebrar o próprio vinho.
Na taça lírica da criação eu bebo
Nas fontes toda a embriaguez de Baco
E entornando toda ilusão percebo
Nesta visão de um mundo imaginado
Na percepção através da taça vejo
Que o criar supera o real traçado
Que ao mover-se, morre no gargalo a queda
Todos os tipos e formas das quimeras
São sopros efêmeros no bafo de Dionísio
Tendo em sua alma, do homem todo o mal sorvido
Com o poder que o cálice desta bebida encerra.
Elegia
Elegia a Ausência
A metáfora do beijo presa ao silencio do tempo
Retrato destilado e consumido das velhas horas
Senhoras que tecem areias escolhidas ao vento
E, com mãos de mar, vão e vem desenhando rosas
Pétalas de ausências esparsas na memória
Sempre que a essência do homem, esquecemos
Se extinto a vista mas bem visto ao peito
Guarda a rima rara que é esta lembrança
Tendo depois que finda a vida, o efeito
De discorrer em variados tons a esperança
Valsando ao som da música o antigo ritmo
Nos novos passos de dançar conforme a dança
Sê, a árdua vida se tornar quimeras
Empresta-me o papel, a tinta e a pena
Que as minhas únicas armas são estas
Escrever ao corpo o que o amor sustenta
Ei de acabar assim com o triste fardo
Ao dar sentido ao verso e ao poema
Não resgata o tempo o que a escrita rouba
E adorna em sua linhas metáforas extintas
Da tinta que compõe o verso que já foi embora
No traço riscado que ao lembrar, consista
Mostrando a forma que não mais se encontra
Mas não perdendo o motivo pelo qual exista.
Na leve distância ao qual a pena incide
Separa do corpo a tinta ao papel unida
E marca e fere na folha de rosto, triste
Em sombras memórias jamais esquecidas
Em emoções de versos, preencher a tinta
No sulco que a pena marca, fere, insiste
Na força e no encanto que a escrita pede
A alma das coisas, saudosas despedidas
Se nesta escrita ao compor já se despede
Na extensão do traço e da forma termina
A mensagem da vida que nunca se esquece
A alma das letras sua essência retira
E ao ter o cerrado punho do poeta escrito
Unido o corpo, o coração e parte da alma
A ausência é parte incompleta do espírito
Que preencher tenta com o verso que traça
Sobre a vista do mundo ao sopro da lágrima
A luz rarefeita de um breve sorriso
Nestes versos que a saudade é a guia
Não há traço que riscado não se lembre
Nesta memória em que o ocaso dispa
Os bons momentos que se tem na mente
Epigrama
É uma composição poética breve e satírica. Fruto de um pensamento malicioso ou retrato de uma pessoa ou de uma situação com fino humor, pode ser escrito em formas de diálogo ou em forma de quadras.
O professor sociólogo da Sorbone, e nem ninguém nega
E neste triste quadro, quando o último for apagar a luz
Terá que se contentar em simplesmente assoprar a vela
Epitáfio
Há duas versões de epitáfio. a composição que exalta as qualidades de alguém que haja falecido. Como esta, escrita em oitava rima.
No beijo de mármore ao qual foi confinado
Não há mais de ruflar as asas do tempo
A areia de sua morte há a ampulheta, esvaziado
Cada grão de ar junto com último lamento
E a razão pura, lasciva, há de ficar selada aos lábios
E no coração, o catre profundo, o seu sentimento
Mas não há de ser força e o peso de mil terras
Que o seu valor ao esquecimento à morte encerra.
Espécie de poesia satírica (em geral uma quadra) feito sobre um vivo como se tratasse um morto.
Levanta com tal disposição como faz um morto
A arrasta a sua carcaça a trabalhar durante o dia
E assim passa os dias inertes, nessa total letargia
Sendo ao mesmo tempo, vagabundo e preguiçoso
Haicai
Hai cai é um poema japonês escrito em três versos. O primeiro verso possui 5 sílabas poéticas, o segundo verso possui 7 e o terceiro 5 sílabas, totalizando 17 sílabas.
Pequena beleza (5)
Com origem japonesa (7)
Escrita em três versos (5)
Cara do Japão
Mania de reduzir
Tudo a um só botão
A flor da sua pele
Se rende a relva do corpo
E me deixa louco
Soneto
Argênteo peito o coração se fixa
Escuro catre de emoções reclusas
Do pó ao sangue, se é a razão que escutas
Não há por quê anoitecer o dia
Nascentes muros a razão erguia
Lançando à terra duvidosas sombras
Não há do amor quem a razão esconda
Mas há do amor quem da razão se fira
Simples, e poucas, sábias leis fizeram
Mas esqueceram duas bem distintas
Amar, pensar livre arbítrio tiveram
Escolhendo seus pesos, suas medidas
Apenas ao peito do amante encerram
À sombra do amor, a razão da vida
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