segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Poesia em si - Versos e o número de estrofes


A estrofe é a  reunião de dois ou mais versos. De acordo com o número de versos, recebe um nome diferente.

   Diversos versos de amores

   
   Dois versos - Dístico
O encontro

Ao encontrar o  amor, o solitário verso se completa, enamorado
Juntos, o verso amante e o verso amado, dísticos, já estão casados

                         Três versos – Terceto
O ciúme

            Versos de amor, paixão, casamento, lua de mel, tudo perfeito
            Até intrometer-se no meio a segunda rima, que não tem par
            Causando ciúme, na estrofe ímpar que se compõe o terceto
 
 Quatro versos - Quarteto ou quadra

Começo da separação
   
            Nasce nesta estrofe, separação profunda, o quarteto
            Que neste simples versos causam verdadeira mágoa
            De enamorar o terceiro verso pelo verso  primeiro
            E a segunda rima pela quarta....

                            Cinco versos – Quintilha ou Quinteto
Suspeita

Cinco versos, restos de um amor e uma paixão
Da união do primeiro com o  terceiro verso
Tão próximos e tão pertos, cúmplices são
Da secreta história de amor, que sempre disperso
O segundo verso não desconfia neste quinteto da traição.

    Seis Versos – Sextilha ou Sexteto

Descoberta

Depois de um tempo o amor perfeito já não mais rima
E o segundo verso segue o primeiro, suspeita e sofre
De que interpolada na estrofe a primeira rima  é rica 
Mas como sendo que sempre foi a segunda rima pobre ?
Foi só observar o encontro no sexteto da sonoridade rítmica
Que a traição do primeiro com o terceiro verso descobre

                 Sete versos – Sétima ou septilha
Sete notas sentimentais

Nestes tristes versos soam as sete nota que compõe a história
Que angústia arde ao peito e não mais respira a nobre chama
Na breve sonata que marcou o som do romance na memória
Risca e traça ao segundo verso o peso de tão vil infâmia
Sobre o verso aberto os lamentosos sons das tristes setes notas.
Meu sol si refaz e a dor lá,  na justiça, suspira e canta vingança!
Na septilha, a sétima rima destoa, sem força, suspira...


                          Oito versos – Oitava
Oitava

Ao peso da oitava rima, separa em oitavas esta história
No dístico em que o verso solitário encontra a sua rima
No terceto em que o verso do meio no primeiro apóia
Roubando no quarteto a história tão bela e linda
Na quintilha o primeiro verso pelo amante se enamora
E do amor não resta, rima pobre ou rica na sextilha
E na sétima nota sussurram apenas as notas tristes
Na oitava em que só a amor na memória incide.

                      Nove Versos  Nona

A primeira rima adormece ao leito sem vergonha
Enquanto o verso segundo sua armadilha monta
Na sintaxe do amor em que o verso se encontra
Tecido nos moldes diversos o veneno destila
Sobre o florete de honra que o verso traído rima
Invade o lar, e as duas rimas risca ao recitar...
Não mais neste peito há de arder o amor, esta nobre chama
E assino no ato a ausência eterna desta mui nobre dama
E levai pro inferno junto este  verseto ao qual diz que ama.

               Dez versos ou Décima

Sobre a décima a lira versa sobre o amor e a morte canta
Triste voz que emana em seu tom o sentimento sepulta
Cessa tudo o que canta a antiga musa que a culpa
De não saber viver o amor neste meu peito descansa
Não há mais viver em meus versos que a rima alcança
São apenas brisas de esperança que  meu verso procura
Sobre memórias que hoje transformam -se em tortura
Rasgam em cortes as letras de todas as lembranças
Vivo na morte da vida a maior pena ao condenado
Amar e no amor o antídoto do amor ter encontrado

Poesia em Si - Versos e o número de Sílabas


Versos e  o número de sílabas.

A métrica, para alguns autores, é extremamente importante. Até o início do século passado, valorizava-se sobretudo a contagem silábica dos versos. Depois da revolução modernista da década de 20, passou a ser mais utilizado o verso livre, inovação modernista que não segue nenhuma regra métrica, apresentando um ritmo novo, liberado e imprevisível. Mas como se conta as sílabas métricas de um poema?

Para verificar a métrica do poema, vamos fazer a escansão do primeiro verso. Escandir significa dividir o verso em sílabas poéticas. Nem sempre as sílabas poéticas correspondem as sílabas gramaticais. Para contar estas novas sílabas, esqueça a divisão que aprendemos na 4º série. Vamos escandir os versos da poesia abaixo gramaticalmente e poeticamente.



Contando as sílabas poéticas

As sílabas poéticas quando são contadas de acordo com a sonoridade.

1o Lei  - Conta-se apenas até a última sílaba tônica, ou seja, até a última sílaba forte.
2 Lei Quando duas vogais átonas de palavras diferentes se encontram, dá-se a junção delas numa só.

Ex. Nascido de uma profissão extinta

Vamos contar as sílabas desta frase.  Nas/ci/do/ de/ u/ma/ pro/fis/são/ ex/tin/ta/
Temos doze sílabas.

Vamos contar as sílabas poéticas. Nas/ci/do /de u/ma/ pro/fis/são/ ex/tin/ta
Observamos que tem uma união sonora do de e o u, formando uma sílaba poética apenas. Contamos apenas até a última sílaba tônica. A palavra extinta, a sílaba tônica é a tin. Então não contamos a sílaba ta que vem a seguir.
  
        Agora que já sabemos fazer a escansão dos versos, vamos classificá-los quanto ao número de sílabas.

Um Verso - monossílabo

Cada verso tem só uma palavra e cada palavra tem apenas uma sílaba poética, pois como vimos só se conta até a última sílaba tônica do verso.

Em
Uma
Única
Sílaba
Sou
Do
Que
Quero
Ser

Duas sílabas – Dissílabo

Sois versos
Dissílabos
De bocas
Silábicas

Palavras
No início
A forte
E a átona
Embala
No ritmo
movendo
palavras

Três Sílabas Trissílabo

Há três sílabas
Que esta estrofe
Compartilha
Uma encanta
Outra dança
Nesta rima

Quatro Sílabas  - Tetrassilábicos

Tem neste quarto
Os quatro cantos
E cada canto
Se tem um gato

Mas cada gato
Em cada canto
Só vê três gatos

Cinco sílabas – Pentassílabo ou redondilha menor

Os cinco versinhos
A cantar cantigas
Fizeram um círculo
Sentaram ao chão
Os cinco unidos
Nesta redondilha
Cantaram bonito
Juntaram as mãos
Os cinco pertinhos
Contavam as  rimas
Guardaram o  ritmo
Gostaram do som
Os cinco juntinhos
Nesta redondilha
Cantaram pertinho
O som da canção
            Esta poesia
            Ficou conhecida
            Como redondilha
            Menor desde então

Seis sílabas - Hexassílabo

  O que sou ?

Bem sei sobre estas sílabas
Sussurrar esse enigma
Se sai número seis
A despojar nas linhas
A cada mais é menos
Som que encanta na rima

Sete Sílabas – Heptassílabo ou Redondilha maior

                        Seteno


Sete-flamas sobre o céu
Cachaça sete-virtudes
Sete canas sete júris
Sete anos como réu

Sete dias da semana
Sete notas musicais
Sete cores do arco íris
Sete chaves nunca mais

Sete-barbas no oceano
Sete-belo sobre a mesa
Sete-cascos flores alvas
Sete lascas de madeira

Liberdade sete cores
Maravilhas, sete belas
Tempo passa, sete horas
Sete palmos sob a terra
  

Oito sílabas


Estava oitava que vos escrevo

Não é nota, nem melodia

E nem do peso é a medida

E nem da nota, é o dinheiro

Se nessa oitava desce o tom

Cai-se neste verso seguinte

Que para todo bom ouvinte

Agrada a melodia e o som

Mas esta oitava sinfonia

Possui como nota estas letras

Escutais o som que solfejas

Divididas em oito sílabas



Nove Sílabas ou Eneassílabos

Poema das nove horas

Morre na cidade a fresca velha
Que a ninguém tratava com brandura
Cheia de nove horas era ela
E as nove horas foi pra sepultura
Durante nove dias foi festa
Bebiam dançavam pelas ruas
Porém fato muito estranho houvera.
Na nona hora na  nona lua
Saiu do fundo da cova a velha
Pra buscar o estojo de costura.


Dez Sílabas – Decassílabo

De versar não há forma mais perfeita.
Da beleza emana o som desta lira
A ser tocada com seus sons de rima
E ao desenhar no ar rara beleza

Esculpi o verso tal qual forja argila
Imprime a forma edifícios de areia
E são angústias que a pedra tateia
Na própria forma que o metro se fixa

Bom decassílabo é o de dez sílabas
Não foge a rima e compõe sonetos
Versos são ouros para o sonetista

Escrito a pena, todo seu dinheiro
Depositando suas jóias em rimas
E em estrofes todo o seu vasto reino

Onze sílabas ou Endecassílabo

            Poema de onze-letras

Alcoviteiro ao amor meu o recado
Leva, caminhando sempre aos pés ligeiros
Por que tu és do amor, intermediário
Deste presságio de amor que é  passageiro

Vate que o eterno amor um dia se finda
Nestas linhas que este tempo sempre apaga
Antes dissolvida a escrita quero a marca
De vivido ter a ferro o amor na vida

Corra pois é muito amor que encerro ao  peito 
 E o tempo sempre é pouco p’ra se amar tanto
Cada poeta tem do amor, fogo aceso

E o erro é o principal traço do humano
Caso extinta a chama do amor que padeço
Possa c’outras damas, reparar o engano


Doze versos, dodecassílado ou Alexandrino
  
De todos preferidos é, Alexandrino
Doze sílabas o seu nome o nome emprega
Grande herói, o seu romance sobre esta terra
Por um outro Alexandre foi também escrito

Do nome do autor ou do título deriva
A denominação do verso Alexandrino
Doze sílabas poéticas divididos
Todos versos empregados nesta medida




   Bárbaro a poesia e o verso de 13 sílabas

Bárbaro sempre fui e serei nesta minha medida
Por longas métricas naveguei, muitas rimas parti
Várias construções de versos regulares destrui
Deixando sem lar o metro, clássica parte da escrita
Sou rude e inculto considerado. Cruel, desumano
Mas nestas forças dos meus barbarismos universais
Não fiquei a contar as silabas, nem as rimas tais
Como os babacas poetas letrados parnasianos.


Versos Regulares

Obedecem as regras clássicas estabelecidas pela métrica, as rimas aparecem de modo regular, tanto na forma quanto na métrica.

Por obedecer a métrica
Regular eu sou chamado
Estas rimas nestes espaços
Vão seguindo as suas regras

Versos brancos ou soltos

Quando os versos não apresentam rimas, mas obedecem uma regularidade métrica.

Sou branco mais a métrica não perco
Todas sílabas são metrificadas
No meu canto não há sonora rima
Não encontra-se o som nestes meus versos

Versos livres

Típico do modernismo, não obedece nenhuma regra.

Livre, a percorrer no livro
Sobre a linha, escritas suas verdades
Livre para correr na liberdade
Versos, diversos versos nestas rimas

Versos polimétrico

O próprio nome diz. Muitos metros, diversos tamanhos. É o nome dado aos versos regulares de tamanhos diferentes. 

Poesia em si - Rimas



A rima é a semelhança de sons, finais ou internos nos versos.

Quanto à sua localização

Externa e interna

A rima é externa quando os sons são semelhantes no final dos versos

Por ser rima externa estou aqui fora
Morrendo de frio, atrás desta porta

A rima é interna quando rima a palavra final do verso com uma palavra no próprio verso ou no interior do verso seguinte.

Sou rima interna, estou aqui dentro
E aqui vou vivendo, sem hora, sem pressa

Rima quanto ao vocabulário (explicar a nobreza da rima, rara, pobre ou rica)

Rimas pobres ocorrem com palavras da mesma categoria gramatical. Sonoricamente é quando a rima iguala-se as letras a partir da vogal tônica.

Pede esmola à porta, o rima pobre
Que espera da benevolência a sorte
Pode assustar sua pobreza um dia
E a transformar tristeza em alegria 1


Segundo a gramática, dia e alegria são substantivos e pertencem a mesma classe gramatical. Portanto são rimas pobres. Sonoricamente  a riam também é pobre, pois as palavras dIAS e alegrIAS só se identificam a partir da vogal tônica.

Rimas ricas  São palavras de classes gramaticais diferentes, entre um substantivo e um adjetivo por exemplo. Sonoricamente a rima é rica se a identificação começar antes da voigal tônica.

Em ouro é feita a rima sem usura  (Verbo)
Com pedras preciosas esmerada  (verbo)
Do verso é a mais rica morada (substantivo)
Repleta de valores a formosura (Substantivo)
Gramaticalmente são rimas ricas, pois usura (verbo) rima com formosura (substantivo) e Esmerada (verbo) com morada (substantivo). Sonoricamente são rimas ricas também, pois a semelhança de letras vem antes da vogal tônica. uSURA com formoSURA (a vogal tônica é o U)  e esmeRADA com moRADA. Neste caso a vogal tônica é o (A) 

Rimas raras – são as rimas dificilmente encontradas.

Como cinéreos versos traça a escrita
Ciosos, na prosápia do ofício
Nascidas sobre o amplexo do escrínio
           Mortas, no doce alento da grafia

Rima quanto à disposição

Rimas cruzadas ou alternadas – aparecem no esquema abab, aparecem sempre cruzada nas estrofes.
   

                                             Cruzadas rimas

Sobre as armas, as rimas nestas cruzadas
Bernardo e Vincente, nobres cortesãos 
Empunham palavras tal qual brancas armas
Cavaleiros honrados, floretes na mão
Do ideal de uma morte, a morte que talha
Honrando e lavrando o sangue cristão
Da parte do corpo, da parte da alma
Faz-se da rima a palavra, a velha oração

Rimas emparelhadas 

 Espécie de rima que vem sempre em pares. Aa bb


  Bernardo e Vicente, rimas emparelhadas

 Enquanto entoam os padres a velha oração
O solo prende as almas, que se enterram no chão
 Na parelha destreza desta dança que esgrima
A Beleza parelha com a beleza que rima
Sempre na luta de par em par, os cavalheiros
Lutam com as costas unidas, fiéis escudeiros
Vincente ao sul duela contra um grande bárbaro
E Bernardo, ao norte, é o cansaço seu adversário

Rimas interpoladas 

Entre a cruz e a espada o inimigo se fere
Molhada a fronte de sangue e suor
A ferida sofrida é dos males o menor
E a morte por Deus ao homem enaltece
Entre Bernardo e Vicente o inimigo se fere
É o mal da vida trocar a  morte por vitória
E sofrer deste mal a maior derrota
Deste corte profundo que Vicente padece.


Rimas encadeadas  - Quando a palavra final de um verso rima com outra palavra localizada no início ou no  meio do verso seguinte.

        Encadeia-se o fim

O inimigo fere a rima, mas sangra Vicente 
 Em mente a luta que a própria dor sepulta
E da nobreza o que resulta este ato valente
Lembrança sempre de uma guerra inconclusa

Rimas opostas-

  Oposto é o motivo da cruzada

Como é  doce o cântico e o acalento da morte
Que a Vicente encobre nesta guerra de espadas
E a cruz e a sua sombra os clérigos se escondem
Usando de Cristo entre os saques e crimes o nome
O motivo da morte de todos os homens nas cruzadas
Que a procura do ouro, o verdadeiro mote encobre

Coroadas – Quando se sucedem dentro do mesmo verso

     Coroas de horrores

Coroa-se nestas rimas a vilania e a tirania
Aos falsos padres a chama arde, o pecado
E quem mais sujo e impuro for terá alcançado
No traço e no trato a forma demoníaca

Nestas rimas coroadas em jóias muitas vidas
Ornadas com almas nestes campos de batalha


Rimas misturadas - Quando não possuem nenhuma regra a seguir,

Nestas rimas misturadas não há regras a seguir
Há o triste fim e o lamento das almas perdidas
Que neste coro de guerra, entoada por hipócritas
Morre a rima, e alma consome neste fato de mentir
E da mentira a palavra floreia esta divina história
Onde a escória em triste escoras, amarra a vilania.  

Rimas quanto a acentuação Rima Aguda – Formada por palavras oxítonas

Desfile de rimas

Em fino estilo, picante ou satírico, hei de versar
Em agudas críticas os estilos das rimas que virão
Ao fino som de meu vestido hei de espanto  gritar 
 Das rimas graves e esdrúxulas o que vestirão
A grave por ser gorda e em nenhuma roupa entrar
A esdrúxula por ter o mesmo gosto de um pavão
Não possuem a fina elegância deste meu caminhar

Rima Grave – Formada por palavras paroxítonas

Graves razões me levam a proceder assim, tão triste
A um andar, vagar me levam a depressão profunda
Sujeita a ação da gravidade no meu corpo não existe
Rígida e severa, intensa e viva forma de uma escultura
Diz-se dos mais lentos de todos os andamentos, a culpa
Lamento e choro por não caber nas roupas de grifes
E chique, não poder ser nunca por causa da minha cintura
  
Rima esdrúxula – Formada por palavras proparoxítonas.

Visto-me de acordo com a última moda, a eólica
De versos tecidos e bordados entre vocábulos
Perdida entre plumas e paetês, nesta forma estrambótica
A cada estranha roupa vestida um novo espetáculo
O vento vai mudando a minha forma exótica
Vou me perdendo na excentricidade da extravagância
Com penduricalhos me enfeito, e a luz da lâmpada
Após maldoso comentário não fico nunca melancólica 

Poesia em si - Estilos de Poesia



Acalanto

Acalanto é uma composição breve inspirada nas cantigas de ninar. Geralmente escrita em versos de 5 sílabas poéticas.

Sonha uma criança
Em névoas feitas
Com céu de estrelas
Brilhando esperança
Mas em nuvens alvas
Olhando para a Terra
Um anjo que zela
Pela sua alma
E acorda o pequeno
Meio assustado
Chorando acordado
Com olhos serenos

Rufla as asas no ar
Zelando o menino
Dorme pequenino
E volta a sonhar...

Acróstico


                                                       Ana Cristina
                                   
Acordei um dia e fiquei a procurar
                                    Não sabia o que era, porém me fazia falta
                                    Algo que reunisse tudo o que queria encontrar

                                   
Como uma frase perdida que precisava ser achada
Recriar uma paisagem, algo belo
                                    Inventar uma canção, para que pudesse ser cantada
                                    Saber todos os segredos do universo
                                    Tentar reunir tudo em uma só palavra
                                    Insinuar a sedução,  o  amor,
                                    Néctar de flores a serem sugadas
                                    Acordar e não saber onde estou

                                   
Poder voar como a brisa
                                    Entardecer o dia
                                    Revirar folhas secas, espalhadas
                                    Esperar e dormir só de dia
                                    Invés de a noite ser desperdiçada
                                    Restava-me o que estava perdido
                                    Aceitava a idéia de que não o encontrava

                                   
Depois fiz tudo o que me deu vontade
                                    Um desejo em forma de pessoa
                                    Acabei não encontrando o que procurava
                                    Realmente acho que não foi a toa
                                    Tempo passou, tenho saudade do que desejava
                                    E o que procuro eu não achei, não me fez a mínima falta...
Tinha o amor, e uma pessoa que me amava...


Barcarola

Canção romântica dos gondoleiros de Veneza, Barcarola é uma composição de origem italiana em que há referência há um rio ou lago.

Tempo e amor

De ossos e peles no tecido de um barco
Planando nestas águas turvadas do amor
Não há em Veneza, um gondoleiro que for
Que não se rendeu aos poemas de lastro
E a cada embarcação que neste rio navega
Pesa o toque suave que ajuda os cascos
A navegar por entre os amores encontrados
E a naufragar por amores de outras épocas

Como a dor que ao peito do gondoleiro encerra
O faz cantar para os seus passageiros na esperança
Que sua voz sele o seu amor, ao menos lembrança
Do que ele já amou pois só o seu amor lhe resta....

E a cada triste alma que a sua voz escute
Navega pelos rios desconhecidos da alma
Onde encontra perdido entre quimeras guardadas
O amor no tempo, que o próprio tempo ilude...

Ditiramo,

 Criado na antiga Grécia, o ditirambo era um poema cantado em homenagem a Baco(Dionísio), deus do vinho e da embriaguez. Mas depois de algum, este poema passou a celebrar o próprio vinho. 

Na taça lírica da criação eu bebo
Nas fontes toda a embriaguez de Baco
E entornando toda ilusão percebo
Nesta visão de um mundo imaginado
Na percepção através da taça vejo
Que o criar supera o real traçado

Essas líquidas esferas borbulham o infinito
Que ao mover-se, morre no gargalo a queda
            Todos os tipos e formas das quimeras
            São sopros efêmeros no bafo de Dionísio
            Tendo em sua alma, do homem todo o mal sorvido
            Com o poder que o cálice desta bebida encerra.



Elegia

      Elegia a Ausência



                                                A metáfora do beijo presa ao silencio do tempo
                                    Retrato destilado e consumido das velhas horas
                        Senhoras que tecem areias escolhidas ao vento
                                    E, com mãos de mar, vão e vem desenhando rosas
 Pétalas de ausências esparsas na memória
                        Sempre que a essência do homem, esquecemos
           
Se extinto a vista mas bem visto ao peito
Guarda a rima rara que é esta lembrança
                                               Tendo depois que finda a vida, o efeito
                                               De discorrer em variados tons a esperança
                                               Valsando ao som da música o antigo ritmo
                                   Nos novos passos de dançar conforme a dança
                                               
                                   Sê,  a árdua vida se tornar quimeras
                                   Empresta-me o papel, a tinta e a pena
                                   Que as minhas únicas armas são estas
Escrever ao corpo o que o amor sustenta
                       Ei de acabar assim com o triste fardo
Ao dar  sentido ao verso e ao poema

Não resgata o tempo o que a escrita rouba
E adorna em sua linhas metáforas extintas
Da tinta que compõe o verso que já foi embora
No traço riscado que ao lembrar, consista
Mostrando a forma que não mais se encontra
Mas não perdendo o motivo pelo qual exista.

Na leve distância ao qual a pena incide
Separa do corpo a tinta ao papel unida
E marca e fere na folha de rosto, triste
Em sombras memórias jamais esquecidas
Em emoções de versos, preencher a tinta
No sulco que a pena marca, fere, insiste

Na força e no encanto que a escrita pede
A alma das coisas, saudosas despedidas
Se nesta escrita ao compor já se despede
Na extensão do traço e da forma termina
A mensagem da vida que nunca se esquece
A alma das letras sua essência retira

E ao ter o cerrado punho do poeta escrito
Unido o corpo, o coração e parte da alma
A ausência é parte  incompleta do espírito
Que preencher tenta com o verso que traça
Sobre a vista do mundo ao sopro da lágrima
A luz rarefeita de um breve sorriso

                                   Nestes versos que a saudade é a guia
                                   Não há traço que riscado não se lembre
                                   Nesta memória em que o ocaso dispa
                                   Os bons momentos que se tem na mente


Epigrama

É uma composição poética breve e satírica. Fruto de um pensamento malicioso ou retrato de uma pessoa ou de uma situação com fino humor, pode ser escrito em formas de diálogo ou em forma de quadras.

Aqui sempre foi zona,quizomba na terra da Vera cruz
O professor sociólogo da Sorbone, e nem  ninguém nega
E neste triste  quadro, quando o último for apagar a luz
Terá que se contentar em simplesmente assoprar a vela

Epitáfio

Há duas versões de epitáfio.  a  composição que exalta as qualidades de alguém que haja falecido. Como esta, escrita em oitava rima.

No beijo de mármore ao qual foi confinado
Não há mais de ruflar as asas do tempo
A areia de sua morte há a ampulheta, esvaziado
Cada grão de ar junto com  último lamento
E a razão pura, lasciva, há de ficar selada aos lábios
E no coração, o catre profundo, o seu sentimento
Mas não há de ser força  e o peso de mil terras
Que o seu valor ao esquecimento  à morte encerra.

Espécie de poesia satírica (em geral uma quadra) feito sobre um vivo como se tratasse um morto.

Levanta com tal disposição como faz um morto
A arrasta a sua carcaça a trabalhar durante o dia
E assim passa os dias inertes, nessa total letargia
Sendo ao mesmo tempo, vagabundo e preguiçoso


Haicai

Hai cai é um poema japonês escrito em três versos. O primeiro verso possui 5 sílabas poéticas, o segundo verso possui 7 e o terceiro 5 sílabas, totalizando 17 sílabas. 

Pequena beleza  (5)
Com origem japonesa (7)
Escrita em três versos (5)


Cara do Japão
Mania de reduzir
Tudo a um só botão
            

            A flor da sua pele
            Se rende a relva do corpo
            E me deixa louco

Soneto

Argênteo peito o coração se fixa
                                    Escuro catre de emoções reclusas
                                    Do pó ao sangue, se é a razão que escutas
                                    Não há por quê anoitecer o dia
                                   
                                    Nascentes muros a razão erguia
                                    Lançando à terra duvidosas sombras
                                    Não há do amor quem a razão esconda
                                    Mas há do amor quem da razão se fira

                                    Simples, e poucas, sábias leis fizeram
                                    Mas esqueceram duas bem distintas
                                    Amar, pensar livre arbítrio tiveram
                                     
                                    Escolhendo seus pesos, suas medidas
                                    Apenas ao peito do amante encerram
                                        À sombra do amor, a razão da vida


                                                                                           André Scucato